03 fevereiro 2016

Divulgando! O Santo dos Viciados


Hey bookaholics! Trago mais um livro nacional, que a pedido do autor, vou apresentar aqui na coluna Divulgando! 

se você é autor ou blogueiro, e quer seu livro ou blog, divulgado aqui, é só entrar em contato através do entreumlivroeoutro@gmail.com 

O Santo dos Viciados é o primeiro livro do autor Octávio Brandão, e ele está em fase de divulgação. Exatamente por isso, o autor pediu que eu o divulgasse. 

Confiram:

 Ele foi para as ruas a partir de suas crenças. Seguiu o fluxo com o pensamento de que se ele fosse importante para o universo, que este cuidasse dele. Era um playboy como Buda e muitos outros que se entregaram ao sabor do mundo e desafiaram o precipício para descobrir a verdade.
A história de Ângelo começa com uma boa surra dos carecas no centro de São Paulo. É arrastado e agredido pela vida até que conhece Anatole, um “encantador da realidade”, no hospício, e com ele a irmandade “Evolução Dhaen”. Liderada por Stell, uma rica e famosa bioquímica por quem ele se apaixona. Os interesses dela incluem estudos, projetos e viagens no tempo extracorpóreas. Ângelo, de seu comportamento viciado e lastreado nas ruas do centro de São Paulo, embarca numa viagem espiritual por muitas encarnações para descobrir sua essência, o sentido da vida e sua missão aqui (ou lá...).
Recheado de referências musicais, O Santo dos Viciados segue o ritmo alucinante do rock do começo ao fim, sendo contracultural e emocionante. Ao mesmo tempo é uma redenção.

Esta é a história de um não tão simples jovem que desafiou o mundo e os limites de seu próprio espírito para alcançar a iluminação e até mesmo a santidade. Contada de forma genial, com palavras como que tiradas a unhadas da terra, com um fluxo alucinante, beirando o delírio mas lastreado pela ciência. 

Como o autor também é blogueiro, ele liberou um teaser de seu livro. E é claro, que eu trouxe ele pra vocês, deem uma olhada! 

Primeira parte


É! As coisas haviam ficado pretas pra mim! Foram dois os que me atacaram. O primeiro soco perfurou minha bochecha, enfiando barba suja através dela, na gengiva onde meu primeiro molar superior direito deveria estar. O dente deslizou como se fosse um drope sabor sangue e soco-inglês pela língua amargada.
Quando o efeito de estática de rádio mal-sintonizado passou eu ainda estava de olhos abertos e já podia distinguir a aparência dos dois vultos de calça camuflada, coturnos e suspensórios.
- Filho-da-puta, vagabundo!
- Quer um trocado pra encher a cara? - careta de escárnio.
As palavras saíam com tanta naturalidade que por quase um segundo achei que aquilo era tão normal quanto varrer a calçada na frente de casa.
A noite persistia apesar dos bem-te-vis.
Eu estava travado de medo! As endorfinas surtiam seu efeito analgésico, porém, já começavam a ser superadas pela alta quantidade de ACTH* e cortisol* junto com adrenalina em meu sangue, obrigando-me a hiperfocar nas chances de sobrevivência.
Não houve tempo pra nada. O careca bicou minha fuça com o coturno mais brilhante que eu já havia visto e, movido por um atavismo sádico, o outro foi tomado pela tentação de me sobrepujar.


*A corticotrofina, hormona adrenocorticotrófica ou hormônio adrenocorticotrófico (Wikipedia), geralmente abreviado para a sigla ACTH (Adrenocorticotropic hormone em inglês), é um polipeptídeo com trinta e nove aminoácidosproduzido pelas células corticotróficas da adeno-hipófise. Atua sobre as células da camada cortical da glândula adrenal, estimulando-as a sintetizar e liberar seus hormônios, principalmente o cortisol, também estimula o crescimento desta camada.
*2 O Cortisol é uma hormona corticosteróide da família dos esteróides, produzido pela parte superior da glândula supra-renal (no córtex suprarrenal, porção fasciculada ou média) diretamente envolvido na resposta ao estresse. (…) Considerado o hormônio do stress, ativa respostas do corpo ante situações de emergência para ajudar a resposta física aos problemas, aumentando a pressão arterial e o açúcar no sangue, propiciando energia muscular. Ao mesmo tempo todas as funções anabólicas de recuperação, renovação e criação de tecidos são paralisadas e o organismo se concentra na sua função catabólica 1
- Você deveria sumir daqui. A culpa da merda que tá o país é toda sua!
- O cara prefere tomar no cu aqui na cidade grande a ir pra outro lugar. Isso aí, se fode aí, seu
bosta!
- Vai pro meio do mato! Lá é que é lugar de bicho.
O careca destilava toda a revolta que sentia por causa da infância ao lado do pai, que agonizara numa cama lambuzada de urina e bosta decorrente do glioma desenvolvido no trabalho.
Minha surra havia sido uma carnificina rembrantesca!
Fui pego pela gola da camiseta, que não cedia em rasgar, e meu corpo anêmico foi arrastado por um daqueles jamantas enquanto o outro arrancava meus sapatos usados comprados por dois reais no viaduto que liga a Brigadeiro à João Mendes.
- Você não merece nem a roupa que nós fabricamos para você! Seu merda!
Este outro, o mais frio e não tão apaixonado, era guiado simplesmente pelos hormônios misturados ao sentimento de injustiça social e hard-core. Morreria uns meses mais tarde por causa de um silencioso aneurisma de aorta abdominal, quando, numa manhã de domingo começa a sentir dores na região lombar e no abdômen, porém, por achar que a dor é proveniente das noites errando por São Paulo, ela é ignorada, sua vida também...
Já estava nu, com minhas roupas espalhadas pela 14 Bis, todo fodido quando ouvi os gritos de uns travecos que estavam por ali, dirigindo-se aos carecas a roucos brados.
- Aí, ô veado filho-da-puta! Você é o próximo, seu merda! – retruca o condenado com dedo em riste.
As sombras dos travecos correndo moldadas na cintilação urbana não eram nada femininas.
Entre a troca de insultos reverberando no concreto do viaduto meu estado foi ignorado por um breve momento. Naquela hora os objetos do ódio eram os bravos cavalheiros-damas. Foi quando consegui alcançar minha peixeira enferrujada solta perto das minhas calças. Era o tal do agora ou nunca operando seu milagre.
Com todos os músculos retesados e o maxilar travado, num último impulso de sobrevivência, de chofre, levantei-me usando a força ascendente para cravar a dita-cuja no papo do canalha, e ver seus olhos estuporados delatando que ele sentia a língua espetada em seu palato. No segundo seguinte – de confusão e cegueira - o outro já possuía um rasgo que ia da maçã direita do rosto até o lado esquerdo do queixo, tendo sido lacerada sua narina direita e o lábio - não sem que eu tivesse tomado um soco de raspão na nuca e um chute na bunda.
Aí é que os travecos viram a possibilidade de vantagem e correram em nossa direção como zagueiros de futebol americano. Os carecas desapareceram desesperados deixando para trás um borrão de sangue no pálido fim da madrugada do centro.
- Gente...! Que sacanagem! – disse levando a mão à boca.
A feminilidade barbada ressurgia naqueles semblantes. Ao se agacharem pude sentir o cheiro de pica com lavanda, baba e estômago (este último é aquele típico de quem não come nada e bebe muito, há muito).
- O que dá na cabeça desse povo pra fazer um negócio desses? – ela estava atônita.
- Meu Deus! Qual é seu nome? Michelli, liga pra ambulância pelo amor de Deus! Amigo, você vai precisar de uns pontos. Mas vai ficar tudo bem.
Os intervalos de consciência se impunham e a noção do tempo havia sumido - a bebedeira, pancadas na cabeça... Eu me levantara apesar do veemente protesto delas.
Em meu cinema particular me diverti vendo meu rosto atônito encarando o nada. Que ator eu poderia ter sido! As órbitas forçando passagem entre as pálpebras arregaçadas, em uma careta tétrica; o corpo nu de onde pendia um pênis enrugado e brilhante de sangue fresco, a mão agarrada firme a peixeira - que de tanto sangue parecia fazer parte da mão. O tempo parou. Foi quando percebi um flash de câmera. Que bela foto, a do jornal marrom: nós, aquelas figuras na 14 Bis - um mendigo e dois travecos, entre roupas em trapos e o cheiro de mijo seco velho. Parecíamos estátuas, tamanha era nossa estupefação. Tudo isso era um manjar para o espírito obsessivamente auto-piedoso e neurótico como o meu.
Um pouco antes de ser tomado pela náusea e pela tontura, um pouco antes de desmaiar entre a multidão que se juntava indignada, pude ouvir os gambés chegando com seu alarde habitual. Agora sim o Sol assumia seu turno enquanto a noite sádica, satisfeita, ia enxotada. A cena se desfigurou.
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...estrelas e tontura, amnésia, torpor...
...prostrado... um tipo de plástico ou courino encharcado de suor sob meu corpo... paredes de tinta acrílica ocre descascando no teto iluminado pela luz fria...
Minha maca estava no corredor e via gente passando pra lá e pra cá. Gemido, criança chorando, conversas entre os enfermeiros, lamentos, blasfêmias contra Deus, tudo sob o intenso cheiro de éter.
Na maca da frente um velho agonizava e me olhava com desespêro mudo. Cravado em seu crânio estava um cano de plástico, ele provavelmente estava com um certo inchaço lá dentro, sei lá! Estava tão chapado que não sabia se o que eu via era sonho. Adormeci de novo...
Acordei no escuro e no silêncio, em outro ambiente, não estava mais naquele corredor. Fui assaltado por uma angústia, como se tivesse sido capturado, e que o que lá estava, me esperava acordar para me abater e me preparar para o jantar. Sentia que havia recobrado as forças quando pus-me de pé sobre a cama. Senti uma dor estupenda nas costas e na coxa esquerda quando, num átimo, a luz do quarto iluminou mais seis ou sete camas ocupadas por gente se contorcendo. Meu rosto contraiu-se como uma bola de capotão murcha por causa da luz. Estranhei não estar só.
- E aí vai voar? – disse o figura calvo e franzino abrindo a porta e deixando vazar o som do hospital para dentro do quarto.
Alguém espirrou melando o bigode.
Vi que uma sonda saía de dentro da fralda que eu usava e ia direto para um recipiente tubular preso à minha coxa, que foi arrancada instintivamente de meu canal urinário.
Saltei da cama e senti uma emoção hollywoodiana por uma perspectiva que só poderia ser sentida pelo próprio personagem.
Corri pelos corredores como Indiana Jones, sem saber pra onde ir. Em uma curva olhei pra trás e pude perceber que minha carreira havia acionado os seguranças, que por sua vez me seguiam com rádios na mão. Ganhei a recepção lotada e, em seguida, o estacionamento. Pela temperatura sabia que era madrugada.
Corri sem me cansar até a garagem do hospital e percebi que uma pessoa havia se colocado na frente da cancela. Não parei, fiz como artilheiro de rugbi e driblei o doido, que me segurou pela camisola hospitalar fazendo-me cair de costas. Clamava para que eu não fizesse nada com ele, pois era só um empregado do Estado com salário miserável. Eu entendia o infeliz.
Fui levado de volta para o quarto de origem, por três seguranças: um em cada braço e outro na frente, falando no rádio que a situação estava controlada, que era apenas um 13 de fraldas que queria fugir. Nem precisava de tudo isso, vamos e convenhamos...
Deitaram-me. A enfermeira me amarrou dizendo que fui eu quem pedira por aquilo. Fui sedado outra vez.
A internação compulsória em uma clínica psiquiátrica logo após a história do pega-pega no hospital havia sido compreensível afinal havia a exposição na mídia e a constatação de que eu não tinha nem onde cair morto, além do mais fora constatada a mudez traumática. Acharam por bem me fazer aquele favorzinho - o que não é praxe de nenhum funcionário público. Porém, todo psiquiatra, de triagem ou não, que se preze, sóbrio, sensato, sabe que ele mesmo é só mais uma parte do mecanismo imundo na qual vivemos hoje e, quando um semelhante como eu emerge, ele se reconhece e a Ética natural guia seus atos.
Consegui sair do efeito do coquetel sedativo só às 18h, aproximadamente, de sei-lá-que-dia era aquele, com a sensação de quem dormira por dois anos e de ter comido meio kilo de massa de pão crua.
A corcova dos meus dedos por baixo dos lençóis, a porta e dois armários foram as primeiras coisas que vi. Estava me sentindo um caco! Fiquei um tempo na cama pensando em tudo o que havia acontecido.
Levantei-me com dificuldade e observei que ao lado da minha havia outra cama. Ao longe pude ouvir o som de uma tevê.
...nós vamos estar investigando a ocorrência. Já temos a descrição dos agressores...
O corredor dava para uma sala com mais alguns internos que se juntavam para assistir a tevê presa à parede. Um contenção (aquele tipo que ajuda a segurar e sedar os mais alterados) veio ao meu encontro, reparou no estado da minha face, recuou o olhar e disse com o rosto virado para o outro lado:
- Então, me acompanha que a gente vai ter que administrar um remedinho pra você ficar calminho.
Eu pensei: Mais calminho que eu já estou?!? Ainda tô chapadaço!!! Tive quase certeza que meu semblante havia informado a ele este fato. O contenção se adiantou.
- Amigão, é o seguinte: você precisa tomar, senão vamos ter que fazer você tomar à força. Você escolhe.
Pegamos um corredor à frente desse da qual saí e viramos mais a frente.
...reparem nas cenas que vamos exibir a seguir. São cenas por um cinegrafista amador. São cenas bizarras!...
Havia pouco mais de dez pessoas no recinto. Os que ainda eram lúcidos repararam minha presença, uns fitavam surpresos, outros curiosos, enquanto alguns apenas deixavam vazar consternação. Um deles olhou-me com entusiasmo e ao mesmo tempo apontava a tevê balbuciando qualquer coisa, como se eu fosse o Robin Hood e ele fosse da minha quadrilha.
Era eu mesmo ali na tela! Tão diferente de quando eu nasci! Não era o filho único amado pelos pais. Não era o estudante acanhado, anti-social que já manifestava seu desajuste emocional por intermédio de seus devaneios delirantes pelos cantos das paredes, mas que era inexplicavelmente querido; talvez por ser incapaz de ferir, uma vez que as palavras lhe faltavam...
...observem o estado desse indigente. Onde é que nós estamos?!? Como é que o Estado deixa uma situação dessas chegar a esse ponto? Essa violência na cidade de São Paulo chegou a níveis IN-SUS-TEN-TÁ-VEIS! Eu só quero saber quando é que as autoridades vão se dar conta de que o país não é um zoológico e começar a tomar providências...
Um dos internos se dirigiu a mim de forma bem lúcida. Parecia estar em sua própria casa, assistindo televisão com os pés em uma mesinha de madeira.
- É, velho, você está no lugar certo! Sua história é parecida com a de vários aqui, cê tá ligado, né?
Aponta para a notícia com o queixo. Ao lado dele uma mulher com frias feições infantis me olhava com curiosidade. No canto da boca um fio de baba grosso ligava o queixo de um cara pequeno à roupa dele. Estava olhando para a janela.
...Acabamos de receber a informação de que um dos suspeitos foi achado em Santo André, perto da estação de trens...
O contenção já vinha pelo corredor.
- Vamos até a monitoria?
...O estado do pedinte agredido é melhor. Nesse momento ele encontra-se internado numa clínica psiquiátrica pois os traumas psicológicos foram maiores do que as lesões corporais. Voltamos daqui a pouco com mais informações sobre o caso do pobre mudo da 14...
O Pobre Mudo da 14! Minha autopiedade é uma criança mimada e faminta. Ela se regozija...
Fomos pelo corredor da frente, cheio de portas e mal iluminado, para uma salinha nos fundos onde se encontrava um cara morbidamente obeso com uma cara pouco amigável e manchas negras em torno dos olhos, sentado numa cadeira de escritório por trás de uma mesa. A repulsa dele ante meu estado foi notória.
- Senta aí, cara! – apontou a cadeira arfando.
Enquanto isso o contenção mexia numas caixas de sapato logo atrás de mim.
- Você tá famoso, maluco! Veio jornalista saber como você está e o escambau! – fez uma pausa e continuou para o contenção – Clebão, vê se tem Diazepam lá no almoxarifado e já trás pra ficar aqui de reserva.
Voltou-se de novo pra mim e continuou.
- Primeiro de tudo: você me ouve? Se sim responde com a cabeça.
Meneei a cabeça afirmativamente.
- Consegue falar?
Houve um impulso, uma confusão, desespêro, eu me comprimia mais e mais naquela cadeira de madeira. Vendo a minha situação ele apressou-se em abreviar minha aflição.
- Beleza, meu nome é Oto e eu sou o administrador aqui do barraco. – riu-se afundando o rosto entre a papada e as bochechas - Você tá abaladão, né? - esperou eu sinalizar que sim com a cabeça - Aqui nós temos profissionais pra te ajudar a tratar desses machucados aí – aliás os caras te deixaram feio, heim! - pausa - O importante é que você foi admitido pela triagem como doente mental pelo estado em que você se encontra e pelo laudo enviado pelo hospital. Sua tentativa de fuga e tal... Você compreende o que eu digo?
Fiz que sim. Limpou o nariz com a mão, olhou para a papelada e depois cravou os olhos azuis nos meus de novo.
- Que bom! – disse sem muito entusiasmo - Deixa eu te explicar, a casa trabalha com procedimentos psiquiátricos para casos como o seu. Você vai tomar remédios prescritos por gente especializada, vai comer, dormir e atender ao nosso regulamento com boa vontade durante 3 dias. Dessa maneira você vai ser tratado com carinho. Mas, se por acaso você ficar bravo, quiser ir embora antes do período pré-determinado ou ser desobediente, sabe o que vai acontecer? Sabe esses caras grandões, que nem o Clebão? Eles trabalham aqui pra dar amor com força pra pessoas especiais como você, que não querem cooperar, entende?
Amor com força é foda! A casa caiu pro meu lado total.
Sorriu e eu o odiei de leve. Pegou o telefone, discou e esperou. O Clebão adentra a sala quente com as caixas e acondiciona-as em uma gaveta atrás do gordão. Olha pra mim e sorri.
- Ow, então, o telefone tá ocupado. O doutor vai ter que atender o menino aqui amanhã. – se vira pra mim – Ó, o doutor vai te atender amanhã, tá bom?
O que importava quando eu iria ser atendido?!? Eu não tinha controle de nada estando aqui! Além do mais sabia que iria ficar chapado com esses remédios por tempo suficiente para não sentir nenhuma crise. O infeliz falava alto e com mímica achando que eu era surdo ou que eu era retardado.
- Ah, lembrei! Você é fumante?
Pra cacete!
- Então, o cigarro é racionado. De duas em duas horas você vai receber um que você pode fumar, guardar... Você é quem sabe.
Ótimo...!
Nesse momento um copinho apareceu na minha frente, vindo do meu lado esquerdo. Pus na boca e tomei a água do outro copinho.
- Abre a boca pra eu ver se você tomou tudo. – Depois de ter se assegurado continuou. – Mudando de assunto um pouquinho, eu observei que você não tinha nenhum documento com você. Quero dizer, você não tinha nada além desse sapato de boneca aqui.
Sacou de um sapatinho, lado esquerdo, meio limpo, com vestígios de sangue.
- Você não é pedófilo, não, né? – riu.
Porra, gordão, não fode!
Ele fez uma pausa, pôs a atenção em um clipe de papel ainda com o sorriso no rosto, pegou o telefone de novo, discou e esperou. Enquanto isso conversou com o contenção.
- Você sabe se a Nina melhorou?
- Ela continua com a aquela cara estranha. Assistiu televisão o dia inteiro, mas parece que tá bem sim.
Voltou-se de novo pra mim.
- Essa mina tentou se matar ontem. Tomou 15 bolinhas de naftalina e depois começou a passar mal. Tivemos que fazer uma lavagenzinha gástrica nela. – os dois deram uma risadinha maliciosa - Coisa básica!
- E o Fred então? Coitado desse aí, você lembra?
- Opa! Se lembro.
- Esse cara tinha uma síndrome com o nome estranho - cliver... cluster-bussa... cla..., sei lá. Bom, o coitado veio parar aqui depois de ter ficado um bom tempo na cadeia por Atentado ao Pudor depois de ter encoxado um poste no meio da Rebolsas - disse para mim.


Síndrome de Klüver-Bucy*
Riu-se todo.
- Eu rio mas... Coitado! - Oto.
- Foi espancado na rua dele pelos populares que achavam que ele era pervertido. Povo ignorante, né, nem imaginava que o cara era doente. - Clebão disse sério escamoteando a ironia.
- É! Foi, coitado. Eu rio mas tenho dó - voltou-se para mim - Essa síndrome faz o cara não reconhecer as coisas, de se ligar quando uma situação é perigosa e ele também não faz distinção entre o que é ou não um parceiro sexual.
Riu-se de novo.
- Ele era uma figuraça! Vivia metendo as coisas na boca, tipo coisa suja, sabe. Catava do chão. Era folha
seca, chiclete mastigado, bituca de cigarro... Coitado.
Fez pausa e tentou a ligação de novo.
- Que demora. O Chico deve ter saído. – voltou-se de novo pra mim e quando ia falar a pessoa do outro lado atendeu. – Chicô! Qual é o nome daquela senhora que internou o Ângelo? pra eu por aqui na ficha dele... sei...tá bom... Valeu, meu querido.
Sem nem me olhar ele disse-me escrevendo.
- Foi uma tal de Valquíria que te internou no hospital. Você conhece ela?
Era o outro traveco.
- Tem um interno aqui que eu acho que vocês vão se dar bem. O nome dele é Carlos. Ele teve um apagamento de tanto cheirar cocaína e beber conhaque. Ficou cinco dias sem dormir e foi encontrado nu na padaria por moradores do prédio onde morava. Chegou aqui achando que todos iriam matá-lo... Figura! - falou tocando o indicador no polegar enfatizando.
Os dois riram de novo e eu fiquei pensando no porquê de esse tipo de gente achar que alguma mínima coincidência é motivo para uma relação de amizade?






*Síndrome de Kluver Bucy (Wikipedia) - “Os indivíduos perdem a capacidade de avaliar uma situação de perigo, ficam impossibilitados de apresentar sinais de medo ao serem confrontados com estímulos condicionados aversivos. Os indivíduos tornam-se mais dóceis, apresentam baixos níveis sanguíneos de hormônios do estresse e apresentam menor probabilidade de desenvolverem úlceras e outras doenças induzidas por estresse. Uma outra consequência é a regressão à fase oral, levando o indivíduo a colocar na boca tudo que pega, mesmo coisas completamente inadequadas ao consumo humano.2 Essas consequências também ocorrem em animais. ”


Eram umas 16h. O maldito programa de jornalismo trash já havia cansado do Pobre Mudo da 14 e agora passava novela. Os malucos estavam todos dispersos. Dois prováveis drogadictos jogavam damas e nem fizeram muito caso quando cheguei na sala meio deslocado. Um que estava bebendo água no bebedouro se aproximou e, estendendo a mão disse:
- E aí, beleza? Bem-vindo! Eu sou Anatole. Prazer. Os caras me chamam de Velho...
Apenas estendi a mão. Não sentia muito prazer em conhecer ninguém há muito tempo e esse momento não era especial... Fiquei olhando a minha volta.
- É como se tivesse perdido a boca inteira, não é?
Fiquei surpreso com a exatidão de sua descrição da minha condição.
- Mas se você não se comunicar vai ficar doidão mesmo, cara. Seus olhos perscrutam o espaço, você assimila as coisas, velho. Na sala da tevê eu sabia que não estava falando com um retardado qualquer.
Anatole falava com um baita sotaque. Não pronunciava direito sílabas com til, o erre era forte, bem como o o, que soava como a. Um jeito lento, analgésico, animava aquele cara. Era alto, com cabelos meio ondulados, castanho-claros, que terminavam em uma barba de três semanas por fazer. A maçã-do-rosto estava inchada, e celhos estavam por despontar sobre seus olhos. Não possuía o incisivo lateral inferior direito e falava com dificuldade pois o ar passava pela cavidade sob a gengiva ainda lesionada. Usava uma calça bege, moleton azul com toca e chinelos de dedo que mascavam as barras da calça. No dedo anular da mão direita carregava um anel de ouro-branco com uma pedra de jade encravado.
No momento seguinte um espigão desdentado se aproximou rapidamente, tirou uma das mãos de dentro da calça - da bunda - e estendeu-a para mim.
- Daqui três dias, ó!
E fazia que ia fugir, olhando para o muro e mexendo com os dedos das mãos, rindo.
- Daqui três dias, ó!
De novo e de novo; e não ia parar se Anatole não interviesse.
- Casé, dá um tempo. – virou-se pra mim – Vamos dar um rolê.
Retiramo-nos pela porta que dava para o jardim da porta de entrada. Fiquei pensando no que esse cara queria com um mudo e certamente louco como eu? Comunicação sadia devia ser escassa aqui.
- Tá vendo aqueles dois guardas?
Dois homens marrudos olhavam para o nada, como se estivessem ali há séculos fazendo a mesma coisa: depois de tomarem banho, se arrumarem, beijarem suas mães, esposas, filhos e tios, com os espíritos renovados da dinâmica da vida fora do hospício, batiam o cartão e simplesmente se prostravam displicentes em suas cadeiras, contando moscas e folhas secas que todos os dias eram redepositadas ali pelos manacás e ipês do lugar. Sabiam no fundo de forma inefável que todos os assuntos já estavam meio gastos pelos anos e não mais necessitavam profundidade.
- Só estão esperando alguém se considerar doente ou curado para abrirem as portas que os próprios pacientes construíram para eles mesmos. Esses caras são meros porteiros.
Eu observava a vivacidade do espírito daquele cara.
- São eles os chefes, os pacientes. Os donos desse hospício.
Observou-me com o olhar vago, traspassando-me. Foi até a parede do lado de fora do dormitório e encostou a cabeça olhando para o chão.
- Eu costumo ficar assim no banheiro, quando estou tomando banho. Fico memorizando meu corpo. Preciso da minha consciência corporal sempre atualizada, saca? Além disso a água quente nas costas traz meu corpo para o estado perfeito pra pensar. Ajuda a relaxar.
Que bicho estranho!
Fez um silêncio e continuou:
- Tive a minha epifania diária um pouco antes de você chegar. Senti o cheiro de que o ambiente ia mudar, tá ligado?
...não.
- ... Você é a novidade na casa. Mas pra mim é um pouco mais porque eu me liguei que você é possuidor de um espírito macrossoma.
Macrossoma, ok!
- É um corpo vibracional grande, com intensidade.
Deve ser um daqueles místicos chatos, pastores da Nova Era, que falam pelos cotovelos e com ideias sem fundamento.
- Eu meio que saco quando o clima muda, treinei bastante pra isso. A gente não consegue apreender com a consciência todos os detalhes das situações em que vivemos. Os moradores da Lua ainda conseguem apreender mais coisas. Tudo passa pelo subconsciente e fica acumulando o dia inteiro no inconsciente até que à noite pomos tudo em suas devidas gavetas. A grande maioria das pessoas passa a vida inteira em estado hipnótico.
Pôs as mãos no bolso e começou a coçar seu pau.
- Tipo assim: o segredo das nossas realizações está em onde focamos, certo? Mas presta atenção: posso influenciar em sua aura, em pontos frágeis, e esses pontos frágeis são exatamente aqueles das quais você não costuma focar muito. Então, a vida dos outros é nossa enquanto os outros não estão em casa, certo? Certo! Isso é a informação subliminar – sorriu.
Levou a mão ao rosto e fez uma cara engraçada, como de músico em êxtase. O cara era chato, isso sim! E retardado também! Uns papos desconexos... E eu meio que dava corda, né, dando-lhe ouvidos, ao seu fluxo alucinatório.
- O nascimento é que nem a realização de algo. No começo é uma ideia, apenas. Tudo o que é necessário para a sua realização vai aparecendo. Oportunidades vão surgindo para facilitar o processo até que, dadas as condições necessárias, tem-se concretizado o intento. Segundo Goethe em sua Teoria da Metamorfose das Plantas, antes de sermos mesmo somos idéia. Por isso acho que o projeto de nós junta-se ao de nossos pais harmonicamente, como se fosse... Como se chama? Esqueci a palavra. Mas você me entendeu, né?
Fiz um positivo com o polegar sem saber ao que ele se referia.
- É, velho, você é interativo. Não é esquizofrênico. Pelo menos não tá surtado, eu acho.
Anatole ou Velho (nominho filho da puta de feio!), sei lá, desencostou da parede e, ainda com as mãos nos bolsos e me convidou a andar com um sinal com a cabeça.
Fomos caminhando pelos prédios, o da triagem e dos dormitórios. Chegamos a um pátio amplo e coberto, com um púlpito nos fundos e, mais atrás, o guia espiritual de nossos dias: a tevê. Ela estava sintonizada num canal evangélico.
Bancadas de concreto estavam dispostas uma a frente da outra, em duas filas, com uma passagem no meio onde os malucos se estendiam para receber a bênção diária. Resolvi me deitar e em pouco tempo fui tomado pelos efeitos hipnóticos daquelas vagas narcotizantes da tevê e dos remédios ministrados pelo Oto.
...Deus tem um plano pra você...
...imagino que tem mesmo.
Eu navegava em algum oceano plácido, num barquinho pequeno, em um dia ensolarado quando tudo se espatifou com um estalo quente em minha face. Instintivamente rolei pra trás, caí de quatro e me levantei em guarda para observar a doida da mina - tão inconsciente de seus atos (como uma vaca na avenida!) balançando de um lado pra outro abraçada a um chinelo de dedos, reclamando da vida com os olhos marejados perdidos em algum lugar do teto. Os contenções correram para segurar-nos.
Os contenções riam, porém, me assustei pois eu não havia ficado com raiva da risada, como seria o natural a uma pessoa que se sente diminuída frente a uma situação em que foi desafiado e não provou sua superioridade na frente de todos. O que acontecera com meu orgulho? Sei lá...
- Por quê?!?!?! – lamentava ela – por que eles me deixaram virar esse monstro? Agora sofro por causa deles!
Quando os contenções pegaram-na, um de um lado, o outro de outro, pelos braços, percebi que a mulher colecionava cicatrizes. Os punhos!!! Meu Deus! Estes ostentavam cicatrizes como se ela os tivesse rasgado com diversas lâminas. Era desfigurado, com veias e vasos se misturando à salada tétrica. Feião de ver!
Um dos contenções me olhou e percebeu que eu me resignara.
- A Nina tem uns rompantes desse e envolve outros às vezes, daí a gente trabalha dobrado.
Sorriu e saiu puxando a mulher.
Velho permaneceu sentado com os dedos entrelaçados sobre os joelhos, com seu olhar impassível à la James Dean.
- Velho, essa mina fechou todas as janelas, deixou o botijão vazar, deitou-se na cama e acendeu um cigarro antes de vir pra cá. Daqui a família vai enfiar ela numa clínica particular.
Instigou-se e acendeu um pra ele, dos que havia economizado. Eu deitara novamente.
...seu filho está metido com drogas? Sua vida desmoronou? Você, minha senhora, você, meu senhor, está com problemas financeiros?...
Oto batia um sino e aparecia na porta da monitoria (que era dividida e cuja parte de baixo fechada formava um balcão) para distribuir os cigarros. Os internos faziam fila e aí pode-se imaginar o procedimento, né: pega-se um e assina-se o formulário-controle do jeito que dava. Básico, bem repartição pública.
Velho costumava guardar alguns apenas para quanticamente saborear melhor seu vício. Dizia que no momento em que pegavam o cigarro os internos criavam uma egrégora de ânsia que fazia com que o tempo corresse mais rápido e, consequentemente, os cigarros iam-se também mais rápido deixando uma lacuna de abstinência não-suprimida no cérebro. O cigarro para ele não era consumido completamente deixando para outras dimensões uma boa parte de suas substâncias entorpecentes. E, daquele momento em diante, a abstinência impunha em todos um mal-estar e mal-humor difícil. Como se não houvesse vida entre um momento e outro. Sim, o Velho se destacava entre esses caras...
...Você experimenta momentos de profunda depressão? Pensa constantemente em se matar? Saiba que Deus te ama!
O pastor atirava para todos os lados. Apelava mesmo.

Após três dias nossa internação havia terminado e nós compulsoriamente deixamos a casa de saúde. Como nenhum de nós havia um responsável para vir nos buscar fomos liberados.
Quando desembarcamos no Jabaquara Velho parou em um bar na frente da rodoviária e comprou uma maria-mole e um maço de Eight. Andamos quase a noite inteira em direção da Paulista.
Minha impressão negativa sobre Velho havia se diluído. Nós até que estávamos interagindo bem. Eu meio que me acostumara com ele. Ele me falou que eu era expressivo e que nós, seres humanos, registramos em nosso subconsciente as intenções escondidas dos interlocutores em nossas conversas e que isso era uma via de mão dupla. O grande problema é que nosso estilo de vida nos deixou incapazes de interagirmos em um nível mais profundo. Disse que tudo isso é muito simples e natural, e usou um exemplo bem elucidativo: se eu e você falamos sobre maçã, automaticamente vemos essa maçã, certo? Agora, se eu descrevo a imagem da metade de um limão com um pouco de sal encima, posso apostar que você começa a salivar. É uma via de mão-dupla, isso é, consigo saber o que acontece em sua mente de forma imagética também, mas em um nível mais profundo. Disse-me coisas sobre a linguagem do corpo e das maravilhas que qualquer um pode conseguir quando está devidamente sincronizado com as energias do Universo: muito mais pode-se conseguir se nos identificarmos como frutos do mundo, se entendermos que todas as leis físicas ou não-físicas nos são familiares, se estivermos conectados... A partir daquele momento comecei a me dar conta de que ele de fato tinha acesso a mais do que eu lhe revelava sobre mim.
O cara não teve estudo, assim como nós, saca? Aprendeu a ler em alguma estrada do Leste Europeu, de barraca em barraca, chacoalhando em alguma caravana, com os pais e essa foi a principal ferramenta para aquele nômade se desenvolver. O cigano Anatole, saíra jovem pelo mundo sozinho. Com apenas 17 anos embarcou para trabalhar num pesqueiro. Juntou um bom dinheiro e continuou sua peregrinação por terra (e haja saliva pra contar!). Meteu-se com iogues no extremo oriente, prestidigitadores da Europa e eu sei que depois de muita estripulia pela Ásia, Europa e África, veio parar na América Latina. Andou pela Costa Rica, Guatemala, Colômbia, entrou pela Amazônia com os coioteros e caiu numa ecovila em Goiás, onde se estabeleceu por um tempo até que considerável para um nômade nato. Lá, além de aprender permacultura pôde experimentar um estilo de vida alternativo num lugar onde reinava o amor. As pessoas que lá viviam eram como hippies. Não precisavam de dinheiro e a comunidade era autossustentável e o cacete. Disse que trabalhou pra caralho lá e, quando o mundo o chamou ele foi. Simples assim!
O fato é que o doidão resolveu se internar por vontade própria quando veio a São Paulo. A diferença entre estar dentro ou fora de alguma instituição é que dentro você se cura pra enlouquecer de novo lá fora. Diz ser um experimentador, um cientista de diversas realidades e que queria vivenciar aquela dinâmica espiritual com os doentes mentais. Para tanto raspou as sobrancelhas. Uma modificação dessas é extremamente chocante e qualquer um ganha feições de desajustado – a falta de expressão confere ao maluco um aspecto de descontrolado, de não-responsável pelas próprias emoções, como se fosse-lhe tirada essa faculdade. Feito isso era só apelar pra atuação pois o teatro já estava quase montado! Faltava só o cenário perfeito. Evidentemente o bar era o lugar ideal, onde as pessoas ficam bem mais vulneráveis à sugestão, pois agem mais impulsivamente e motivados pela emoção.
Disse que entrou num boteco da Augusta, escolheu os galinhos de briga ideais, os mais bêbados e ignorantes, cujos níveis de álcool já os fazia se sentirem os alfas e sentou-se perto deles encarando-os com jeito sarcástico. A estranheza foi geral. Esperou pelo clima de choque, esperou para que esse amenizasse - mas não até se dissipar por completo – indo para o estado do contrato tácito de tolerância social. Nesse momento começou a se mijar inteiro. A cena deveria ter sido hilária. Até a dona do bar concordou com o cacete que o Velho tomou naquele dia. O efeito foi o esperado. Para o gran finale apareceu no dia seguinte cheio de hematomas, com a mesma postura sarcástica e no mesmo horário. (Contando que a maioria começa mais cedo aos domingos - às 21h os cerebelos já estão encharcados.)
Dessa vez a dona resolveu fazer um xabu: gritar, xingar até que chamou a polícia, explicou direitinho que se tratava de um maluco sem juízo, mais do que um criminoso.
Quando os samangos chegaram ele estava seminu atrás de um carro na frente do bar, falando com o além. Parecia um gato assustado ali. O resultado não foi outro que não o esperado.

Foi só pisar no hospício para acabar com toda a ceninha...

Gostou da obra? Quer entrar em contato com o autor? Visite seu blog: Taverna da Amnésia

Espero que tenham gostado e que me deem sua opinião! 

Mil beijokas e até breve! 

4 comentários:

  1. Seu blog está lindo Anya. A nova cara dele é a minha cara kkkkkkkkk Delicado, discreto, nude.
    E cada dia está melhor suas postagens.
    Parabéns por tudo
    Beijos
    leiturasplus.blogspot.com

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  2. Awwwnt Paty que meiguice! Obrigada pelo seu comentário lindo!!! Estou mega feliz que tenha gostado da nova carinha do blog. Estava meio enjoada do layout antigo, embora o adorasse, e resolvi mudar. Gostei do resultado. O seu também está mega lindo! Obrigada pelo carinho de sempre e volte mais vezes! Beijokas :*

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