23 março 2018

Lá Vem Resenha - Mulheres Sem Nome




Mulheres Sem NomeAutor(a): Martha Hall Kelly
Editora: Intrínseca
Páginas: 496
Série: -/-
SINOPSE: A socialite nova-iorquina Caroline Ferriday está sobrecarregada de trabalho no Consulado da França, em função da iminência da guerra. O ano é 1939 e o Exército de Hitler acaba de invadir a Polônia, onde Kasia Kuzmerick vai deixando para trás a tranquilidade da infância conforme se envolve cada vez mais com o movimento de resistência de seu país. Distante das duas, a ambiciosa Herta Oberheuser tem a oportunidade de se libertar de uma vida desoladora e abraçar o sonho de se tornar médica cirurgiã, a serviço da Alemanha. Três mulheres cujas trajetórias se cruzam quando o impensável acontece: Kasia é capturada e levada para o campo de concentração feminino de Ravensbrück, onde Herta agora exerce sua controversa medicina. Uma história que atravessa continentes — dos Estados Unidos à França, da Alemanha à Polônia — enquanto Caroline e Kasia persistem no sonho de tornar o mundo um lugar melhor. Costurado por fatos históricos e personagens femininas poderosas, Mulheres Sem Nome é um romance extraordinário sobre a luta anônima por amor e liberdade. Um livro inspirador, que encanta e comove até a última página.




Enquanto começo a escrever, sei que minha maior dificuldade será convencer as pessoas de que o que é dito aqui não é um relance do que acontece nas entranhas de um inferno imaginário, mas parte do nosso mundo”. É citando esse trecho que inicio esta resenha. Posso dizer que é um livro forte, perturbador e sordidamente real. Sim,  por mais que nos custe acreditar, MULHERES SEM NOME, é baseado em fatos reais e justamente por isso é tão chocante e me encantou tanto. 

Neste livro brilhantemente escrito por Martha Hall Kelly, as vidas de três mulheres acabam se interligando em meio a tanta crueldade e ódio. Trata-se da história de Caroline Ferriday, Herta Oberhauser e Kasia Kuzmerick. Caroline Ferriday e Herta Oberhauser realmente existiram. 

Caroline Ferriday, uma ex-atriz da Broadway e socialite americana que trabalha no Consulado da França em Nova York no ano em que o Exército de Hitler invadiu a Polônia em 1939, país do homem por quem Caroline é apaixonada. Herta Oberhauser, jovem alemã ambiciosa, é constantemente abusada sexualmente pelo tio. Apaixonada pela medicina, Herta encontra a oportunidade de trabalhar como médica-cirurgiã a serviço da Alemanha nazista e faz experiências terríveis com mulheres e crianças. 

Já a personagem de Kasia Kuzmerick foi livremente inspirada em relatos das próprias sobreviventes do campo de Ravensbrück mencionado no livro, é uma adolescente polonesa, que tem sua inocência tolhida pela guerra e que ao fazer parte de um grupo da Resistência é descoberta pela polícia nazista e levada, juntamente com sua mãe e sua irmã para um “campo de reeducação para mulheres”, próximo de Berlim, o campo de Ravensbrück.

Podemos acompanhar assim, através das décadas, sob uma ótica feminina, algumas das atrocidades cometidas pelos nazistas durante a guerra e a dor do pós guerra na vida das personagens. Os nazistas que naquele momento dominavam a Alemanha e buscavam sua expansão, a grande força civilizatória germânica perseguia a qualquer custo seu direito ao “espaço vital”. Sob a justificativa de que o fracasso alemão na Primeira Guerra e o caos do Pós Guerra se deviam aos bolcheviques, aos comunistas e aos judeus, a solução era exterminá-los. 

Grupos ocultistas, chegando ao extremo de quase religião, difundiam especialmente entre a elite e entre personalidades influentes, a crença na raça ariana, e da sua superioridade sobre todas as outras. Raça superior que tinha sido enfraquecida por se misturar com outras raças “inferiores”, sendo o povo judeu a causa de sua destruição. A forte influência de cunho pagão sobre o nazismo, a mitologia germânica e num último momento, para se opor definitivamente a católicos e protestantes, há substituição do Deus monoteísta por deuses vikings é também demonstrada no livro.

O campo de concentração de Ravensbrück, o único campo de concentração exclusivamente feminino criado por Hitler, realmente existiu, mas pouco ouvimos falar dele. Neste campo de concentração específico para mulheres, eram cometidos crimes específicos de gênero, como abortos forçados, esterilizações e prostituição forçada. Em determinado momento algumas prisioneiras passaram a ser usadas em experimentos científicos. 

Mulheres saudáveis tinham os músculos da pele cortados e eram inseridos vidro, madeira ou terra nos ferimentos, simulando os ferimentos que soldados alemães sofriam na frente de batalha. Algumas recebiam tratamento com sulfonamida, outras com diferentes tipos de drogas. Tais mulheres ficaram conhecidas como “coelhas”, por servirem como cobaia e por andarem pulando pelo campo de concentração devido aos danos que na maioria das vezes eram causados por tais operações. 

Quando foi necessário para os nazistas esconder as cobaias, todo o campo conspirou para escondê-las. Kasia e sua irmã foram algumas dessas mulheres. Em uma das passagens do livro ela diz: “ Em certos dias, o ódio era a única coisa que me fazia seguir adiante”.

O tema me fascina muito e me fez querer pesquisar um pouco mais sobre, acredito que despertará o mesmo desejo naqueles que se propuserem a ler. O livro é instigante e durante a leitura recebemos muitos “socos na boca do estômago”. É difícil realizar que os fatos narrados aconteceram, que seres humanos foram capazes de impingir a outros seres humanos tanta dor, tanto sofrimento, que persiste ainda nos dias de hoje.

O ódio, a intolerância e a ignorância, validada e subsidiada por detentores do poder, mestres em manobrar a massa com sua oratória, Hitler e seu círculo do mal, mentes medíocres, verdadeiras aberrações. 

O que choca e me deixa particularmente frustrada é que muitos que hoje detém um poder absurdo nas mãos, não são capazes de olhar para o passado e tirar lições, aprender que a tirania destrói vidas, gerações, e prolifera o ódio e morte. Como podem perceber o livro me tocou muito, recomendo fortemente a leitura, no entanto, esteja preparado para fortes emoções. 


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Espero que tenham gostado da resenha!

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